Lar das Meninas

Pois é... O Lar das Meninas está finalmente online. Embora o nome possa sugerir, não somos um orfanato, mas uma república. E das melhores já vistas! Nossas portas estão abertas (aqui). Viva a inclusão Digital!

domingo, março 26, 2006

A vodca atrás da cama

Por Bernardo Tonasse

Não lembro bem como cheguei, ou como conheci cada uma; também não me recordo da primeira vez que sentei no robusto sofá-cama da sala. Sou assim, meio desmemoriado mesmo. Mas, com lembranças fiéis ou não, é inegável que, apesar de eu não morar no Lar, o Lar já mora faz tempo em mim. Há cerca de dois anos que ele tem servido de albergue, pensão, colo, mesa de bar, restaurante, chuveiro, hotel e (censurado!). Como observador exterior das peripécias das Meninas – ou mesmo participante de algumas delas – fui aos poucos achegando pra minha vida esse pequeno apartamento da Rua Gavião Peixoto, Icaraí, Niterói/RJ, "depois do Campo de S. Bento, por favor. Aí. Obrigado, motorista".

Apresento-me. Bernardo Tonasse, muito prazer. Sou o ex-namorado carioca-suburbano da chefe do bloco-do-eu-sozinho-empoeirado que é esse blog: Anna Carolina. No entanto, o Lar das Meninas é muito mais do que um aspecto da relação que tive – e tenho – com uma das moradoras; tanto que, mesmo após o fim do dito namoro, continuei a freqüentar o simpático apê. Como agora recebi voz para homenagear os 3 anos de existência do mesmo, abro o bico e seja o que Deus quiser.

Um macarrãozinho com salsicha aqui, um pão com requeijão ali, muito cream cracker; tudo isso regado a muito suco em pó ou em garrafa (a Maguary, aliás, deve ter feito fortuna com o Lar). Uma das principais marcas desse lugarzinho é a sua gastronomia... digamos... urbana-pós-moderna. A desculpa é que, no ritmo em que vivem, não dá pra comer melhor. Comida nutritiva e balanceada que nada; infelizmente, só dá pra comer besteira, pois não dá tempo. Há! Eu sei a verdade, e ela começa com "P". Pobreza? Não, felizmente. É preguiça mesmo.

A verdade também é com "P" quando se trata da arrumação. Por mais que o famoso "rodízio" de limpeza funcione, ainda que com alguns esquecimentos esporádicos, a casa parece estar sempre com alguma coisa fora de lugar. Mas, e isso que é fascinante, não é uma zona irritante, caótica, suja e feia. Não é tão desorganizado assim. Só que, no Lar das Meninas, você é capaz de encontrar as coisas mais bizarras nos lugares mais inusitados. Eu poderia dar mil exemplos, mas, para evitar constrangimentos, vou me limitar a apenas um: a insólita garrafa de vodca atrás da cama.

Pois é, uma garrafa de vodca. Não foi à tôa que citei esse exemplo. É que – desculpem a filosofia de botequim – isso é o mais perfeito retrato do Lar das Meninas. Acompanhem-me na viagem: o apartamento é relativamente arrumado e disciplinado; ocorrem, com uma regularidade estonteante, reuniões internas para resolver questões de interesse do Lar (e ai de quem faltar); ao entrar pela porta, você tem 75% de chances de ver a Luana estudando na mesa, e a Priscilla e/ou Raquel estudando no quarto (com a Anna esse percentual cai para 0,03%); apesar de adorarem uma diversãozinha, são todas meninas responsáveis, e têm como prioridade o cuidado com o Lar e os estudos. (Estão acompanhando? Vêem que lugarzinho mais ordinariamente certinho? Sim? Então vocês não estão acompanhando porcaria nenhuma! Voltem para o início do parágrafo!) Entretanto, por trás de toda essa militar aparência de seriedade, existem garrafas de vodca atrás das camas, e aí eu já estou sendo metafórico.

É que no Lar das Meninas você pode contar com uma ajuda para uma prova, e um copo de chopp no boteco. No Lar, você pode encontrar um quarto bem-arrumado, e também ótimas parceiras de videokê, samba e forró. No Lar, você tem papos profundérrimos sobre os confins da alma humana e também risadas homéricas com os ‘causos’ da Raquel. No Lar, você vai ter uma cama limpa, cheirosa e arrumada como a de um convento; mas atrás dela, sempre terá uma garrafa de vodca.

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