Lar das Meninas

Pois é... O Lar das Meninas está finalmente online. Embora o nome possa sugerir, não somos um orfanato, mas uma república. E das melhores já vistas! Nossas portas estão abertas (aqui). Viva a inclusão Digital!

segunda-feira, outubro 23, 2006

Continuamos aqui

Não, não partimos. Ninguém se formou ainda. Ninguém mais se casou e foi embora. As coisas é que seguem correndo demais para que haja tempo de serem registradas. Mas, ufa!, ao menos continuam acontecendo.

Não lavamos mais o banheiro com as próprias mãos. A chegada de Dona Marli, nossa faxineira, foi a desculpa perfeita para assumirmos que há mais uma moradora entre nós: a preguiça. (A vergonha, como se percebe, foi pastar faz tempo.)

Continuamos enrolando para fazer compras, falando alto demais quando nos juntamos, indo vez ou outra ao "Novo Ponto", esquecendo (de vez em quando) a porta aberta, furtando comida alheia, consumindo besteiras, deparando-nos com a geladeira vazia, contando os centavos da semana e reclamando da má qualidade do imóvel.

Também continuamos com dois colchões reservas. Mas as visitas desapareceram.

sábado, julho 22, 2006

Pequeno aviso para que as coisas tenham contexto

Se a vida continuar seguindo seu rumo de acordo com a ordem natural das coisas, serei a primeira a me formar, daqui a pouquíssimo mais de um ano. Acontece que eu sofro de nostalgia precipitada crônica e isto tem feito com que eu já olhe para nossa casa com um certo ar de saudades e fique repassando alguns dos tantos momentos (sem-adjetivos-porque-vários) que tive aqui.

Acontece que, além de nostálgica, sou detalhista. E isso faz com que alguns dos meus “momentos decisivos” sequer tenham sido flagrados por outras pessoas. Paciência, momentos são assim: cada um tem os seus.
Este blá blá blá todo é, afinal, para justificar a postagem de linhas e mais linhas à mais simples cascas de laranja. E viva o sumo das coisas!

Descasca a minha laranja?



Era uma de nossas primeiras semanas em Niterói. Mal nos conhecíamos. Eu não sabia que a Luana acha um verdadeiro absurdo fazer certos favores (false sheep). Ela não sabia que eu tinha uma rinite filha da mãe. Eis uma das minhas grandes cenas neste lugar.

Luana, viciada em laranjas, senta-se ao sofá e descasca uma. Eu, à mesa, subitamente tenho vontade de chupar uma laranja também. Vou à cozinha, pego uma e, inocentemente, faço o pedido:

– Descasca para mim?

O momento de tensão se dá. Estava acostumada à pedir que descascassem minha laranja porque espirro o equivalente a duas semanas se o cheiro do sumo ficar na minha mão. Luana tem incrível dificuldade para lidar com atitudes que considere mimos ou folgas descaradas. E isso fica logo claro para mim com a expressão de “não acredito” que, imediatamente, se desenha em seu rosto. Logo acrescento:

– É que eu sou alérgica.

E o constrangimento pairou no ar por alguns segundos. Dois, talvez. Mas desconfio de que não tenha passado de um e meio. Luana se manifesta:

– Ah, tá. Fiquei até meio assim...

Mas a esta altura, um segundo e meio não haviam desfeito o meu constrangimento de ter pedido que ela descascasse a minha laranja.Naquela noite, se não me engano, ela fez o favor e ficou tudo bem. Eu, logo a seguir, adotei a técnica de fazer sacos plásticos de luvas. Desde então, passei a descascar sozinha minhas próprias laranjas. Tangerinas, na verdade, porque dispensam o uso de faca. São bem mais práticas. Permitem que eu as encape e descasque gastando um único saquinho. E sem um único espirro, já que o cheiro não fica na mão e, o sumo, preso no saco.

Só me dei conta disso neste* final de semana, quando, como de hábito, minha mãe disse para eu pedir a meu pai que descasque uma tangerina para mim. Imagina! Como é que antes eu nunca havia tido a idéia? – pensava eu, pensando no episódio relatado e enfinado a laranja no saco. Grande lar das meninas...

Hoje, orgulho-me, as laranjas tiramos de letra. E como nos resta algum tempo, seguimos pelejando na arte de descascar abacaxis.


(*) Neste, na verdade, não corresponde à data da postagem. Este textinho é meio velhinho. Mas vale.

quarta-feira, julho 19, 2006

Faxina


Ontem, Dona Marli, nossa realizadora de limpezas, esteve aqui no apartamento. Como de hábito, ela queria saber se havia alguma recomendação especial, alguma coisa que precisasse ser urgentemente limpa. Não, ontem só havia o de sempre.
Hum... Mas pensando bem, havia um certo cantinho da casa que estava meio mofado. Dona Marli já tinha ido embora quando eu lembrei. Então, sobrou para mim de novo. E é isso que estou fazendo aqui: só passando um paninho com Veja.

domingo, março 26, 2006

A vodca atrás da cama

Por Bernardo Tonasse

Não lembro bem como cheguei, ou como conheci cada uma; também não me recordo da primeira vez que sentei no robusto sofá-cama da sala. Sou assim, meio desmemoriado mesmo. Mas, com lembranças fiéis ou não, é inegável que, apesar de eu não morar no Lar, o Lar já mora faz tempo em mim. Há cerca de dois anos que ele tem servido de albergue, pensão, colo, mesa de bar, restaurante, chuveiro, hotel e (censurado!). Como observador exterior das peripécias das Meninas – ou mesmo participante de algumas delas – fui aos poucos achegando pra minha vida esse pequeno apartamento da Rua Gavião Peixoto, Icaraí, Niterói/RJ, "depois do Campo de S. Bento, por favor. Aí. Obrigado, motorista".

Apresento-me. Bernardo Tonasse, muito prazer. Sou o ex-namorado carioca-suburbano da chefe do bloco-do-eu-sozinho-empoeirado que é esse blog: Anna Carolina. No entanto, o Lar das Meninas é muito mais do que um aspecto da relação que tive – e tenho – com uma das moradoras; tanto que, mesmo após o fim do dito namoro, continuei a freqüentar o simpático apê. Como agora recebi voz para homenagear os 3 anos de existência do mesmo, abro o bico e seja o que Deus quiser.

Um macarrãozinho com salsicha aqui, um pão com requeijão ali, muito cream cracker; tudo isso regado a muito suco em pó ou em garrafa (a Maguary, aliás, deve ter feito fortuna com o Lar). Uma das principais marcas desse lugarzinho é a sua gastronomia... digamos... urbana-pós-moderna. A desculpa é que, no ritmo em que vivem, não dá pra comer melhor. Comida nutritiva e balanceada que nada; infelizmente, só dá pra comer besteira, pois não dá tempo. Há! Eu sei a verdade, e ela começa com "P". Pobreza? Não, felizmente. É preguiça mesmo.

A verdade também é com "P" quando se trata da arrumação. Por mais que o famoso "rodízio" de limpeza funcione, ainda que com alguns esquecimentos esporádicos, a casa parece estar sempre com alguma coisa fora de lugar. Mas, e isso que é fascinante, não é uma zona irritante, caótica, suja e feia. Não é tão desorganizado assim. Só que, no Lar das Meninas, você é capaz de encontrar as coisas mais bizarras nos lugares mais inusitados. Eu poderia dar mil exemplos, mas, para evitar constrangimentos, vou me limitar a apenas um: a insólita garrafa de vodca atrás da cama.

Pois é, uma garrafa de vodca. Não foi à tôa que citei esse exemplo. É que – desculpem a filosofia de botequim – isso é o mais perfeito retrato do Lar das Meninas. Acompanhem-me na viagem: o apartamento é relativamente arrumado e disciplinado; ocorrem, com uma regularidade estonteante, reuniões internas para resolver questões de interesse do Lar (e ai de quem faltar); ao entrar pela porta, você tem 75% de chances de ver a Luana estudando na mesa, e a Priscilla e/ou Raquel estudando no quarto (com a Anna esse percentual cai para 0,03%); apesar de adorarem uma diversãozinha, são todas meninas responsáveis, e têm como prioridade o cuidado com o Lar e os estudos. (Estão acompanhando? Vêem que lugarzinho mais ordinariamente certinho? Sim? Então vocês não estão acompanhando porcaria nenhuma! Voltem para o início do parágrafo!) Entretanto, por trás de toda essa militar aparência de seriedade, existem garrafas de vodca atrás das camas, e aí eu já estou sendo metafórico.

É que no Lar das Meninas você pode contar com uma ajuda para uma prova, e um copo de chopp no boteco. No Lar, você pode encontrar um quarto bem-arrumado, e também ótimas parceiras de videokê, samba e forró. No Lar, você tem papos profundérrimos sobre os confins da alma humana e também risadas homéricas com os ‘causos’ da Raquel. No Lar, você vai ter uma cama limpa, cheirosa e arrumada como a de um convento; mas atrás dela, sempre terá uma garrafa de vodca.

sábado, janeiro 28, 2006

Propaganda da gente

Este ano, comemoraremos 3 anos juntas. Um raro caso de república conserva a formação original desde seus primórdios, excetuando-se, claro, a caso da moradora Fernanda, que trocou nossa companhia pela do marido.
A desertora foi devidamente perdoada. Afinal, estava entre as principais cláusulas do contrato: Pode-se abandonar o Lar, em caso de matrimônio. Aliás, a casa só pode ser abandonada em três outros casos: oferta irrecusável de trabalho em outro estado, morte ou incêndio.
Ah, claro. Ia me esquecendo. Não pagamento das despesas (o popular calote) também poderia causar eventuais baixas. Entretanto, não seria abandono, mas despejo. Felizmente, não chegamos a este ponto e assim, seguimos felizes e contentes há quase três anos.
Poderiam perguntar: mas e as outras razões para abandono?
Que razões? – devolvo a interrogação.
Mal entendido? Coração profundamente magoado? Salsicha roubada do congelador? Incompatibilidade de gênios? Pasta de dente apertada no lugar errado? Nada disso está lá no contrato. Portanto, ofenda-se quem quiser se ofender, com o que quiser se ofender: não é possível arrumar as malas e abandonar a casa. Oferecemos, porém, três opções: conversar sem rodeios, engolir a seco ou cair na porrada. A pancadaria, nunca tivemos. E acho que nunca teremos porque, cada vez mais ocupadas, quando nos encontramos, o amor prevalece e muito se releva.
Para comemorar esses 36 meses de intensa convivência, vamos publicar aos poucos, a história de como viemos parar no mesmo lugar. Aos pouquíssimos visitantes deste espaço virtual, avisamos: quem deixar comentários concorre a uma diária neste incomparável coração de mãe, com direito a partida de baralho (jogo de escolha do premiado), jantar completo com nugets ou hambúrguer na chapa (duas vedetes de nosso cardápio), sono confortável em um de nossos colchões exclusivos para hóspedes e café da manhã especial, servido apenas três vezes antes na história deste recanto. Ah, se o felizardo quiser sentir-se uma de nós, pode entrar no rodízio de limpeza do banheiro. Tentados?

sexta-feira, janeiro 27, 2006

Hannibal vive conosco

Demorou, mas estamos de volta. Este lar passou por uma fase carregada, meio turbulenta. Mas, com o começo do novo ano, resolvemos colocar as coisas em ordem antes mesmo do Carnaval. A limpeza tem sido feita semanalmente, ainda que continuemos esquecendo de trocar o rolo de papel higiênico. Nossas atas estão ficando repetitivas. ( Pois é, temos reunião com ata.)
A grande novidade, no entanto, é um novo morador. Sim, encontramos espaço para mais um. Na verdade, ele não ocupa muito espaço. Minto, até ocupa, mas como só pode se apresentar se Raquel se retira, dá no mesmo.
Ele vem sempre durante a noite, quando todas as refeições foram feitas. Às vezes, surge durante a tarde. Antes, era meio do nada. Agora, já estamos acostumadas. Hannibal vive conosco e até joga um buraquinho de vez em quando.
Às vezes tem uns ataques de fúria que nos fazem temer a perda da língua. Sorte que não há riscos. A boca dele está muito bem amarrada em uma borracha infeliz que prende o aparelho ortodôntico e permite que ali só entrem ar e líquidos não muito espessos. Se engasgar, é a morte. Dificilmente conseguiríamos salvá-lo.
A convivência, ao contrário do que possam pensar, não é tão difícil. Nosso Hannibal é muito simpático. (E nem poderia ser diferente, sendo ele uma outra face de Cacá.) O único problema é que não dá pra conversar direito. A distorção dos sons das sílabas demanda um enorme esforço de atenção. Outro dia, ele atendeu o telefone. A pessoa, surpresa com a voz estranha, perguntou:
_ Ué, quem atendeu?
_ Ah! Foi o Hannibal.
_Ah, tá – a pessoa respondeu com naturalidade. Está acostumada a nossas anormalidades.

quinta-feira, setembro 22, 2005

Vivendo e aprendendo com Chico Buarque

O Lar das Meninas anda em ritmo de greve. E em ritmo de greve, nada melhor que prestar atenção aos detalhes praticamente jogados pela casa. Ao lado do computador, o porta-cd quase esquecido. Dentro dele, o Chico. Por que não?
Por que não, não. Com Chico tem que ser porque sim. Assim sendo, nesta manhã caidinha demais para um início de primavera, acaba de rolar um "Cinco Minutos" às pressas, com os sinceros votos de que aprendamos a brindar com as águas das chuvas.

Bom Conselho - Chico Buarque

Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado, quem espera nunca alcança

Venha, meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar

Corro atrás do tempoVim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio o vento
Na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade