Lar das Meninas

Pois é... O Lar das Meninas está finalmente online. Embora o nome possa sugerir, não somos um orfanato, mas uma república. E das melhores já vistas! Nossas portas estão abertas (aqui). Viva a inclusão Digital!

sábado, janeiro 28, 2006

Propaganda da gente

Este ano, comemoraremos 3 anos juntas. Um raro caso de república conserva a formação original desde seus primórdios, excetuando-se, claro, a caso da moradora Fernanda, que trocou nossa companhia pela do marido.
A desertora foi devidamente perdoada. Afinal, estava entre as principais cláusulas do contrato: Pode-se abandonar o Lar, em caso de matrimônio. Aliás, a casa só pode ser abandonada em três outros casos: oferta irrecusável de trabalho em outro estado, morte ou incêndio.
Ah, claro. Ia me esquecendo. Não pagamento das despesas (o popular calote) também poderia causar eventuais baixas. Entretanto, não seria abandono, mas despejo. Felizmente, não chegamos a este ponto e assim, seguimos felizes e contentes há quase três anos.
Poderiam perguntar: mas e as outras razões para abandono?
Que razões? – devolvo a interrogação.
Mal entendido? Coração profundamente magoado? Salsicha roubada do congelador? Incompatibilidade de gênios? Pasta de dente apertada no lugar errado? Nada disso está lá no contrato. Portanto, ofenda-se quem quiser se ofender, com o que quiser se ofender: não é possível arrumar as malas e abandonar a casa. Oferecemos, porém, três opções: conversar sem rodeios, engolir a seco ou cair na porrada. A pancadaria, nunca tivemos. E acho que nunca teremos porque, cada vez mais ocupadas, quando nos encontramos, o amor prevalece e muito se releva.
Para comemorar esses 36 meses de intensa convivência, vamos publicar aos poucos, a história de como viemos parar no mesmo lugar. Aos pouquíssimos visitantes deste espaço virtual, avisamos: quem deixar comentários concorre a uma diária neste incomparável coração de mãe, com direito a partida de baralho (jogo de escolha do premiado), jantar completo com nugets ou hambúrguer na chapa (duas vedetes de nosso cardápio), sono confortável em um de nossos colchões exclusivos para hóspedes e café da manhã especial, servido apenas três vezes antes na história deste recanto. Ah, se o felizardo quiser sentir-se uma de nós, pode entrar no rodízio de limpeza do banheiro. Tentados?

sexta-feira, janeiro 27, 2006

Hannibal vive conosco

Demorou, mas estamos de volta. Este lar passou por uma fase carregada, meio turbulenta. Mas, com o começo do novo ano, resolvemos colocar as coisas em ordem antes mesmo do Carnaval. A limpeza tem sido feita semanalmente, ainda que continuemos esquecendo de trocar o rolo de papel higiênico. Nossas atas estão ficando repetitivas. ( Pois é, temos reunião com ata.)
A grande novidade, no entanto, é um novo morador. Sim, encontramos espaço para mais um. Na verdade, ele não ocupa muito espaço. Minto, até ocupa, mas como só pode se apresentar se Raquel se retira, dá no mesmo.
Ele vem sempre durante a noite, quando todas as refeições foram feitas. Às vezes, surge durante a tarde. Antes, era meio do nada. Agora, já estamos acostumadas. Hannibal vive conosco e até joga um buraquinho de vez em quando.
Às vezes tem uns ataques de fúria que nos fazem temer a perda da língua. Sorte que não há riscos. A boca dele está muito bem amarrada em uma borracha infeliz que prende o aparelho ortodôntico e permite que ali só entrem ar e líquidos não muito espessos. Se engasgar, é a morte. Dificilmente conseguiríamos salvá-lo.
A convivência, ao contrário do que possam pensar, não é tão difícil. Nosso Hannibal é muito simpático. (E nem poderia ser diferente, sendo ele uma outra face de Cacá.) O único problema é que não dá pra conversar direito. A distorção dos sons das sílabas demanda um enorme esforço de atenção. Outro dia, ele atendeu o telefone. A pessoa, surpresa com a voz estranha, perguntou:
_ Ué, quem atendeu?
_ Ah! Foi o Hannibal.
_Ah, tá – a pessoa respondeu com naturalidade. Está acostumada a nossas anormalidades.