Lar das Meninas

Pois é... O Lar das Meninas está finalmente online. Embora o nome possa sugerir, não somos um orfanato, mas uma república. E das melhores já vistas! Nossas portas estão abertas (aqui). Viva a inclusão Digital!

terça-feira, maio 17, 2005

Lar das meninas ganha mais um herói

"Só não esquece a cabeça porque eestá grudada ao pescoço." Quando eu era criança, meu pai vivia me dizendo isso. Sempre fui muito desligada. E não só na infância. A todo mumomento, é preciso que me chamem a atenção para alguma coisa.
Por causa de toda essa desatenção, já escapei de ser atropelada várias vezes (Obrigada, amigos!), atropelei uma bicicleta, não percebi que um pivete estava tentando me assaltar ( Ah, tenha dó! Estava pensando em coisas muito mais interessantes.) e por aí vai. Pois dessa vez, quem escapou por pouco dos efeitos da minha "leseira" foi o nosso pobre lar.
Sábado pela manhã, pego, animada,o ônibus rumo à Bienal. No meio da ponte, a falta do que fazer me fez pensar: Caramba, o ferro está ligado! (O ferro tá ligado em cima da cama. Vai esquentar até pegar fogo no colchão. Todos os meus livros vão ser consumidos pelas chamas. E meus bichinhos. Opa. E a cama da Lu. E as coisas da Lu. E da Pri. E da Cacá. E dos vizinhos. Porque óbvio que o fogo vai se espalhar por todo o prédio e talvez até causar mortes. Calor. Fumaça. Gritos. Desespero.)
Não podia saltar no meio do trânsito e voltar pelo cantinho, ou o teria feito. A solução foi esperar chegar ao Rio. Lá, ligo para uma listinha de pessoas que poderiam me dar o telefone da síndica para que ela pudesse fazer algo. (Enquanto isso, na minha cabeça, o fogo consome aos poucos o meu colchão, que é, aliás, uma das coisas mais gostosas do mundo.)
Priscilla - Não tem.
Seu Zezinho, pai da Lu - Não tem
Dona M., proprietária do apê - Para variar, não atende
Dona N., a advogada - Não está em casa
Meu Deus! Quem eu conheço em Niterói? A Malu está em Valença, curtindo o jongo no Quilombo São José. (O fogo já toma conta da cama inteira. Meus papéeeeis!)
Breno Costa. Grande Breno Costa. Seria ele. Mas...
Breno - Está na Bienal.
Quem mais?
Lauren, amiga da Pri - Não atende.
Lívia? Não, não. Mora muito longe de Icaraí.
Ora, pois, bem, eh... Vou ter que ligar pro pai da Malu. Ai-que-ver-go-nhaaaa!
_Oi, seu Paulo! Aqui é a Anna, amiga da Malu.
Expliquei o drama. A casa ia pegar fogo por minha culpa. Eu saí e achava que tinha deixado o ferro de passar ligado. Ele precisava me ajudar.
Fofíssimo, seu Paulo saiu de sua casa, em plena manhã de sábado, e veio até o prédio desligar a chave geral do apartamento. Depois eu liguei para saber o tamanho do estrago. ."Tudo tranqüilo, Anna. Nenhum sinal de fumaça". Aliviada, segui para o Riocentro.
Domingo, chego em casa. Não, o ferro não estava ligado... Mas o que teria sido de mim se continuasse a achar que estava?
música dramática.
Reverência profunda pro seu Paulo.

terça-feira, maio 10, 2005

Não, senhoras e senhores. Neste Lar, não se consomem drogas.

segunda-feira, maio 09, 2005

D. Nina - a explicação

D. Nina – A explicação

Anna resolveu explicar-se, então. Era isso, minha gente. D. Nina estava ali e não havia mais o que fazer. Ela havia desejado tanto que a coisa simplesmente aconteceu. Materializou-se a solução de seus problemas. Café da manhã, almoço, jantar, casa limpa e arrumada. E ainda uma doce insistência para saber se está faltando alguma coisa.
“Tá sim, D. Nina.”
D. Nina nasceu da falta. Da falta que faz não estar em casa quando parece que a correria das coisas vai atropelar tudo. Nasceu da falta da ordem, da necessidade de ter onde cair. D. Nina nasceu no dia em que Anna chegou em casa e descobriu que não tinha leite. Ela não havia comprado. E, se não comprasse, não haveria. A partir de agora, seria assim.
Anna explicou-se:
“D.Nina fugiu daqui”, disse, apontando, dramaticamente para dentro de si, como era de seu feitio. “Do meu grande, grande medo de ser responsável por mim.”
“Eu, hein! Isso só pode ser um espírito!”, insistiu Cacá.
“Não vou nem falar nada”, falou Lu.
“Ah, gente. Deixa de besteira. Todo mundo sabe que a Anna é maluca. Vamos comer o bolo”, sugeriu Pri, que faz aniversário hoje.

domingo, maio 08, 2005

D, Nina

Depois daquele feriado prolongado, quando chegaram em casa, as meninas tiveram uma surpresa: as compras estavam feitas, a casa estava arrumada, o banheiro limpo e tinha até bolo de cenoura. Como chegaram todas ao mesmo tempo e não haviam visitado o apartamento no fim de semana, tomaram um grande susto. Nenhuma delas poderia ter feito aquilo.
A verdade é que a casa havia se acostumado a ficar abandonada. E elas estavam cansadas dessa história de cuidar de si mesmas. Ninguém havia avisado que sobreviver, pura e simplesmente, dava trabalho. Havia dias em que se esqueciam até mesmo de comprar comida.
Desejaram tanto a empregada que seus parcos recursos não podiam pagar que ela acabou surgindo. Ainda estavam na sala, boquiabertas, discutindo se deveriam ou não comer o bolo que não sabiam de onde viera, quando a porta se abriu e ela entrou.
Era uma figura muito simpática: cabelos um pouco grisalhos, óculos moderninhos e roupas conservadoras. Carregava uma sacola cheia de frutas e foi logo jogando todas na pia. Anunciou que faria uma salada. Só foi lembrar de se apresentar quando, histérica, Raquel anunciava para as outras que só podia tratar-se de um espírito.
Não se tratava.
“Oh! Mil perdões, meninas, esqueci de me apresentar. Não se assustem. Sou D. Nina, a governanta.”
Como é que era?
Verdade. Governanta.
Anna teve que se conter para não dar pulinhos, imaginando que, se havia até bolo, o que esta mulher não faria para o almoço! Teve o pensamento desviado para a pia, onde boiavam na água com vinagre meia dúzia de lindíssimas nectarinas.
Quando faziam perguntas como “Quanto temos de pagar?”,”Quem a contratou?”, D. Nina simplesmente não respondia. Só quando a Luana começou a comer o canto da boca, de tão irritada, é que ela concordou em dizer uma única frase a respeito de sua origem: “Perguntem à Anna.”
A Anna, coitada, tá tentando se explicar até agora.

sexta-feira, maio 06, 2005

Do gato
Ando com a consciência pesada. É que, um dia, cheguei em casa tarde e dei de cara com a Raquel assustada porque havia acordado com algo se mexendo em sua cama. Como era de se esperar, Raquel pensa que é um espírito e, ineditamente tentando superar seus medos, abre os olhos.
Um gato.
Sim, senhoras e senhores, um gato. O gato da vizinha teve a audácia de entrar em nossa casa pelo mesmo lugar que eu, quando tive que pular a janela. A raiva, quando eu soube, foi tão grande que acabei indo dormir imaginando muitas formas perversas de matar o bichano, caso ele invadisse mais uma vez o apartamento.
O máximo que consegui, foi dar uma vassouradinha de leve ( de leve mais por medo que por pena) para espantá-lo em um fim de semana em que tive que tomar conta da janela para que o folgado não voltasse. Não foi dessa vez que realizei meu sonho pueril de pegar um gato pelo rabo, rodar, rodar, rodar e tacar na parede com toda a força. Uma pena.
Mas o fato é que o gato desapareceu. Sumiu. Evaporou. Quer dizer, pelo menos lá em casa ele nunca mais apareceu. (Risadinha má.) Até então, não tinha noção do meu poder.


Bizarrices da noite
Imaginem um dos caras mais feios do mundo. Em uma festa lotada. Acompanhem:
Apresentação formal. Já esqueci o nome.
Ele: De onde você é?
Eu: Icaraí.
Ele: Não vou mentir pra você. Sou pobre, meu pai é aposentado e, no final da festa, vou catar as latinhas.
Eu: Tá.
Ele: É uma profissão digna, não é?
Eu: É.
Ele: Digo que não sou catador de latinhas, mas reciclador de alumínio.
Eu: Boa.
Ele: Você estuda?
Eu: Estudo.
Ele: O quê?
Eu: Jornalismo.
Ele: Hum... "O que você é?" "Jornalista." "E seu marido?" " Ctatador de latinhas." Não vais dar certo.
Eu: Especialmente porque não vou me casar com você.
Ele: Não precisa casar, então. Pode rolar uma amizade, um namoro, ou só um beijo.
Eu: Não.
Ele: Você beija bem?
Eu: Como vou saber? Nunca me beijei.
Ele: Me dá um beijo que eu te digo.
Eu: Vou ficar com as opiniões anteriores.
Ele: Você não tem. Disse que não sabia se beijava bem...
Eu: Eu sou modesta.
Ele: Modesto sou eu, que beijo bem e não quis dizer.
Risos. Mais um pouco de blá blá blá.
Ele: Vou ter que sair daqui. Você está me enrolando.
Eu: Não estou te enrolando. Você pediu um beijo, eu disse que não vou dar. Você fica se quiser.
Ele: Eu estou dizendo que vou te dar um beijo. Fica se quiser.
Fui lá para o outro lado da pista.

quarta-feira, maio 04, 2005

Fechadas para balanço

É isso, até segunda ordem.